Pensamento Clínico

Pensamento Clínico é um projeto que nasce da nossa experiência na coordenação de grupos de estudos horizontais com psicanalistas, investigando e explorando o pensamento clínico de André Green ao longo de sua extensa obra.

Nossa proposta é inspirada pelo conceito homônimo cunhado por André Green na virada dos anos 2000 para lidar com os desafios da psicanálise contemporânea, antevistos por ele quase três décadas antes. Vale lembrar que o projeto de Green é aberto, plural, heterogêneo e complexo, na procura de um campo comum na interlocução com as diferentes matrizes e com os autores do pensamento psicanalítico.

Iniciamos esse projeto há três anos fazendo uma curadoria pessoal dos textos de Green, em uma proposta de percurso a partir do célebre relatório de 1974 “O analista, a simbolização e a ausência no enquadre analítico”. Esse caminho explora os inúmeros desdobramentos que se sucederam a partir desse relatório e que apontaram na direção de uma obra extensa, multidirecional e atemporal, que ainda reverbera. Green buscou sua inspiração tanto nos mitos de origem do passado freudiano como também se lançou para o futuro, explorando o porvir da psicanálise por novas fronteiras, sempre defrontando os impasses e desafios vividos no campo psicanalítico.

O método de trabalho escolhido por nós é executado por meio da leitura flutuante de alguns dos célebres textos de André Green, pinçados de diferentes coletâneas e momentos de sua vasta bibliografia. Como Green propõe, o pensamento clínico é indissociável da experiência prática, e assim propomos que, à medida que nos debruçarmos sobre as suas obras, também possamos realizar exercícios clínicos sistematicamente organizados. Dessa forma, os participantes trarão vinhetas clínicas e relatos de sessões com seus pacientes para que vivenciem uma escuta dos seus casos, em um grupo de analistas no qual teoria e técnica estejam enredadas. O grupo será um terceiro que pode escutar o par analítico no contexto de um dispositivo potente, gerando associações e ampliando o sentido da situação analítica. 

O pensamento clínico de André Green é aberto a uma constelação de autores. Ao caminharmos com os textos de Green, virão à luz as interlocuções que ele foi constituindo ao longo de sua ampla obra. Autores como Melanie Klein, Bion, Winnicott e Lacan estão presentes, entre tantos outros. Green sempre procurou um common ground na psicanálise, em um projeto ambicioso por meio do qual se superassem as contradições entre escolas e instituições, e o mais importante, as contradições entre a teoria e a clínica. 

Pensamento e clínica, duas palavras aparentemente não associadas, mostram a sua força quando conjugadas em uma atitude singular frente à prática. A teoria só tem serventia na medida em que gera associações, movimento e abertura à escuta do analista, sempre em referência direta ao encontro e à experiência psicanalítica. Citando o próprio Green (2002, p.12) no livro O pensamento clínico, completamos o raciocínio que condensa nossa proposta: “Em psicanálise existe não somente uma teoria da clínica, mas também um pensamento clínico, quer dizer, um modo original e específico de racionalidade surgido da experiência prática”.