Pensamento Clínico II:
O Trabalho do Negativo

O Trabalho do Negativo (1993), apesar de conjugado no singular, é, na verdade, um trabalho plural, hipercomplexo. Abrange uma série de conceitos que buscam integrar a metapsicologia psicanalítica, em toda sua amplitude, a um pensamento clínico original, ambos associados diretamente à experiência clínica no contexto do paradigma contemporâneo.
O Trabalho do Negativo é “considerado por Green seu livro mais original e importante” (Urribari, 2022, p. 71). Coroa um percurso que tem como marco inicial o ano de 1967, com a publicação de “Narcisismo primário: estrutura ou estado?”, um dos textos integrantes da coletânea do livro Narcisismo de Vida e Narcisismo de Morte (1983).
Green desenvolve o conceito do trabalho do negativo ao longo de décadas de pesquisa, e o situa a partir da destrutividade radical presente no centro das questões da clínica psicanalítica contemporânea. Entre suas propostas, reformula o conceito de pulsão de morte e o associa ao narcisismo negativo e à função desobjetalizante (contrapondo a pulsão de vida ao narcisismo positivo e à função objetalizante). A investigação de Green abrange as problemáticas do masoquismo, dos fracassos e dos impasses vividos na clínica e a reação terapêutica negativa, entre outras presentes na situação analítica.
No trabalho do negativo, a clivagem, o desmentido (recusa) e o desligamento são explorados como os mecanismos de defesa de base mais presentes nos casos-limite, os casos paradigmáticos de nosso tempo. Não estamos mais na lógica do recalque, apesar de ele também ser explicado no contexto do negativo em Freud.
Entre tantos conceitos essenciais para serem explorados neste grupo de estudos está o de alucinação negativa, talvez o conceito princeps que inspirou Green em sua pesquisa, a partir de um insight que ele teve ao ler a importante
nota de rodapé do texto de Freud “Complemento metapsicológico à teoria dos sonhos” (1915): “Eu acrescento como complemento que uma tentativa de explicação da alucinação não deve abordar a alucinação positiva, mas muito mais a alucinação negativa” (Freud, 1915 p.). Green retoma essa hipótese e afirma que a alucinação negativa precede a alucinação positiva. Na esteira dessa premissa, Green cunha no longínquo 1967 o conceito de estrutura enquadrante, complementando, assim, a teoria da representação de Freud. O conceito de estrutura enquadrante articula, dessa forma, o trabalho do negativo e a emergência de representações. “Representar é tornar presente o objeto ausente” (Urribari, 2022 p. 123).
São vários os paradigmas e conceitos encontrados sob a égide do trabalho do negativo e é praticamente impossível listá-los todos aqui. Portanto, retomamos alguns deles nos pontos abaixo e incluímos outros que serão abordados neste módulo:
· Estrutura enquadrante e a alucinação negativa;
· O complexo da mãe morta;
· Enquadre externo e interno;
· Ausência, presença e a terceiridade;
· O par pulsão-objeto, intrapsíquico e intersubjetivo;
· O representável e o irrepresentável;
· Psicose branca e a clínica do vazio;
· Pulsão de morte e o trabalho do negativo;
· Função objetalizante e desobjetalizante;
· Trabalho do negativo estruturante versus desestruturante;
· Narcisismo negativo, desligamento, desinvestimento;
· Narcisismo positivo, ligação, investimento;
· Trabalho do negativo e os conceitos freudianos de recalcamento, forclusão, negação, clivagem e rejeição.

“O trabalho do negativo se resume, então, a uma questão: como, em face da destruição que ameaça tudo, encontrar uma saída para o desejo de viver e amar?” (Green, 1993, p.201)

Horário: 10 encontros com duração de 2 horas.
Investimento: R$215,00 – mensal.
Número de participantes: mínimo 05 e máximo 15.

Textos: 

O trabalho do negativo” (Anexo I) 

Alucinação negativa” (Anexo II) 

• “Seminário sobre o trabalho do negativo” (Anexo III) 

• “Para introduzir o negativo em psicanálise” 

Aspectos do negativo: semântica, linguística e psique” 

• “Hegel e Freud: elementos para uma comparação que não é evidente” 

• “Traços do negativo na obra de Freud” 

Pulsão de morte, narcisismo negativo, função desobjetalizante” 

Masoquismo(s) e narcisismo nos fracassos da análise e a reação terapêutica negativa” 

A clivagem: da desmentida ao desligamento nos casos-limite” 

Bibliografia

GREEN, ANDRÉ; O trabalho do negativo. Editora Artmed, São Paulo, 2010.

Observação: Os textos relacionados na bibliografia acima serão disponibilizados em cópias digitais traduzidas para o português. 

 

Textos complementares

 

GREEN, ANDRÉ; Narcisismo primário estrutura ou estado (1967); in:Narcisismo de vida e narcisismo de morte. Editora Escuta, São Paulo, 1988. 

GREEN, ANDRÉ; O trabalho do negativo (capítulo 7); in: Orientações para uma psicanálise contemporânea; Editora Escuta, São Paulo, 2002. 

URRIBARRI, FERNANDO; Por que Green?; Zagodoni Editora, São Paulo, 2022.

 

Facilitadores:

Michael Reuben – Psicólogo CRP - 06/57138 – Psicanalista, aspirante a membro do Departamento de Psicanálise do Instituto Sedes Sapientiae. Psicólogo pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Aprimoramento em psicologia clínica (PUC-SP). Aperfeiçoamento pelo curso “Clínica Psicanalítica: Conflito e Sintoma”, do Departamento de Psicanálise do Instituto Sedes Sapientiae. Estudou a obra de André Green com Talya Candi (SBPSP). Integrante de grupos de estudo com Fernando Urribarri (APA). Membro da Gesto Psicanálise. Atua na clínica psicanalítica.
 
Luís Alberto Gustavo Niemies Jeremias – Psicólogo CRP - 08/25211 - Mestre em Psicologia Clínica – UFPR. Membro do Laboratório de Psicanálise UFPR. Integrante do Grupo Brasileiro do Pensamento de Donald W. Winnicott e do NEW - Núcleo de Estudos D. W. Winnicot em Curitiba. Estudou a obra de André Green com Talya Candy (SBPSP). Integrante de grupos de estudos com Fernando Urribarri (APA) e Mara Sverdlick (UBA). Atua na clínica psicanalítica e psicoterapia de orientação psicodinâmica, se dedica aos estudos e investigações na psicanálise, desenvolvendo pesquisas sobre a clínica contemporânea com foco no surgimento de novos sintomas.